Trecho do documentário "Nordeste: Cordel, Repente E Canção (produção de Tânia Quaresma, 1975)" onde mostra um depoimento do famoso repentista Pinto do Monteiro.
Depoimento de
Ivanildo Vila Nova*
Esse depoimento vai contrariar muita gente que jura, por tudo que é santo, que tive grandes embates com o famoso Pinto do Monteiro. A primeira lembrança que tenho do grande poeta repentista é de quando passava, quase todas as manhãs, justamente pelo local onde ele morou muito tempo, em Caruaru, na Rua São Roque, quartinho dos fundos de um enchimento pertencente a um amigo de meu pai e padrinho meu, chamado Epaminondas.
Pela diferença de idade, quando me profissionalizei na cantoria, Pinto praticamente ia em busca do ocaso, como trabalhador da viola. Mesmo assim registro quatro passagens entre nós. A 1a delas, uma cantoria no Restaurante Bebedouro, em Caruaru, com ele e José Soares do Nascimento, cada um cantando sua queda, com Pinto concluindo:
Eu fui como cascavel
Todos tinham medo dela
Hoje qualquer um me pega
Me amarra, me desmantela
Que onça depois de morta
Qualquer um briga com ela
Nos anos 70, durante uma excursão de vários poetas por cidades do Ceará, abrindo um pouco minha parceria, na época com Dimas Batista, cantei um pequeno baião em sextilhas com Severino Pinto. Depois de um dos torneios de Olinda, novamente cantamos uma outra pequena baionada para Giusepe Baccaro e Bajado, no "Teatro de Arena da Casa das Crianças". Finalmente assisti-o fazendo uma apresentação em Monteiro/PB, para Ronaldo Cunha Lima, cantando com Odilon Calumbí, e desabafando suas mágoas com a bela estrofe:
Se ninguém envelhecesse
Eu não estava aonde estou
Velho, doente, acabado
Sem saber pra onde vou
Toda alegria que tinha
Veio o tempo e carregou.
Considero Pinto tão importante, para a cantoria na sua época, como foi um Luiz Gonzaga para a música popular nordestina.
Sobre Pinto do Monteiro, ver http://ww.secrel.com.br/jpoesia/pmont00.html
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